terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Processos Morfológicos











         Essa semana o Morfologiando abordará os tipos de morfemas, que como já vimos é a unidade mínima significativa ou dotada de significado que integra a palavra. Com base no que diz J. Mattoso Câmara Jr., em seu Dicionário de Lingüística e Gramática (verbete morfema). Segundo o autor, os morfemas, do ponto de vista do significante, podem ser: aditivos, subtrativos, alternativos, reduplicativos, de posição e zero.



Classificação dos Morfemas


Morfemas aditivos


Como o próprio nome o indica, os morfemas aditivos são segmentos que se ligam a um núcleo, ou seja, a um radical. Em nossa língua, são os morfemas mais produtivos. Os exemplos os afixos (prefixos e sufixos), as vogais temáticas (nominais e verbais) e as desinências (nominais e verbais).

Exemplo baseado em Kehdi, 1999.

Amávamos

am (RD) + á (VT) + va (DMT) + mos (DNP)

Em que RD = radical; VT = vogal temática; DMT = desinência modo-tempotal ; DNP = desinência número –pessoa

O radical e a VT constituem uma base – o tema – os elementos seguintes são desinências.

T (rd + VT) +D (DMT + DNP)

Em T = tema, a ordem não pode ser alterada.


Morfemas Subtrativos


Quando se dá a supressão de um fonema do radical para exprimir alguma diferença de sentido, tem-se o morfema subtrativo. Embora bem mais raros que os morfemas aditivos. (KEHDI, 1999)

Anão / anã
Órfão / órfã

Após uma primeira análise dos pares acima, podemos concluir que nesses casos o feminino é obtido através da eliminação do /-o/ do masculino. A noção de feminino, em vez de aparecer indicada através da adição de um morfema à forma masculina, processo básico de formação do gênero em Português, decorre da própria subtração dessa forma.

Partindo a análise dos masculinos, não podemos afirmar que o feminino resulta da queda do /-o/; visto que substantivos em –ão apresentam vários tipos de femininos:
Leão / leoa
Sultão / sultana
Assim, quando temos o feminino em –ã, o masculino é automaticamente em –ao; se o masculino termina em –ão, há variadas possibilidades de feminino.



Morfemas de alternância


Baseado no livro Morfemas do Português, de Valter Kehdi, os morfemas alternativos consistem na substituição de fonemas do radical, que passa a apresentar duas ou mais formas alternantes, dessa alternância resulta o morfema.


Há alternância vocálica, que é a mais comum e pode ocorrer em casos como:


a)      /e/ – /ε/ (ê – é); /o/ – /כ/ (ô – ó)

Aparece em alguns nomes e pronomes: olho/olhos, esse/essa. E também em alguns verbos da segunda conjugação: bebo/bebes, corro/corres.

b)     /e/ – /i/; /o/ – /u/

Ocorre em pronomes: aquele/aquilo, todo/tudo; e em alguns verbos: fez/fiz, pôs/pus.

c)      /i/ – /ε/ (i – é); /u/ – /כ/ (u – ó)

Ocorre em alguns verbos da terceira conjugação: firo/feres (do verbo “ferir”); acudo/acodes (do verbo “acudir”).

Há casos de alternância consonantal, que é menos comum, mas também acontece, principalmente em verbos, como digo/dizes, faço/fazes, peço/pedes.

Alternância pela diferenças de posição do acento para marcar o contraste entre nomes e verbos: dúvida/duvida, fábrica/fabrica, máquina/maquina.


Morfemas reduplicativos


Consiste em duplicar o radical em uma sílaba que a ele se antepõe. É uma reprodução imperfeita, com perda ou troca de alguns fonemas. (CARONE, 2001)
O Morfema Reduplicativo nada mais é que a repetição de uma parte o de toda a raiz, no apinajé tak  ‘bater’ = tatak ‘batucar com os dedos’. Morfema alternativo ocorre na mudança da estrutura fônica da raiz, como no inglês read ‘ler’ = read  passado simples de ler, onde somente a pronuncia é alterada para dar outro significado.


Morfema de posição


O Morfema de posição no seu processo diferencia o sentido pela posição dos vocábulos no contexto.  Algumas línguas usam a ordem da posição de dois elementos compatíveis no mesmo contexto para distinguir sentidos diferentes, ou seja, em algumas sequências de elementos, invertermos sua ordem, teremos um sentido diferente. Portanto, o morfema de posição é aquele em que o significado muda, dependendo da posição dos elementos do contexto em questão

 Exemplos:

O paciente inglês (doente)
O inglês paciente (calmo)





Assim, concluímos que a Língua Portuguesa possui um número significativo de morfemas e que os vários tipos de morfemas apresentados neste blog está dividido em três grupos, determinados pelo acréscimo, pela subtração e pela alternância de segmentos. Em nossa língua, prevalecem os morfemas aditivos que são bem recorrentes, também, os alternativos no campo das flexões nominal e verbal. E raros são os casos de morfemas subtrativos em nossa língua.  Já os morfemas reduplicativos, estão relacionados à linguagem infantil, aos hipocorísticos e aos compostos. E o morfema de posição está próximo da morfologia e da sintaxe, o que atrapalha a divisão exata dessas áreas de estudo.

E para uma próxima postagem deixaremos o último, mas não menos importante dos morfemas: o morfema zero!



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