Como
dito no post sobre Processos Morfológicos, o último, mas não menos importante.
O morfema
zero Ø representa uma ausência significativa de alguma marca. Isso acontece, em
geral, com relação ao gênero masculino e ao número singular.
São comuns, na Língua Portuguesa, os exemplos de
morfema Ø na flexão verbal: com freqüência, as desinências modo-temporais e
números-pessoais são representadas por esse tipo de morfema. Lembremos,
contudo, que não se deve postular um morfema Ø quando estamos diante de um
elemento recuperável: em ame, não se deve falar em vogal temática Ø, visto que,
no tema amA-, a vogal temática se elide antes da desinência modo-temporal –e:
am(a)e.
Segundo Kehdi (1990), só podemos destacar um
morfema zero se três condições forem satisfeitas:
·
É preciso que o morfema corresponda a um espaço
vazio;
·
Esse espaço vazio deve opor-se a um ou mais
segmentos;
·
A noção expressa pelo morfema zero deve ser
inerente a classe gramatical do vocábulo examinado.
Carone (1994) nos oferece mais exemplos de
ocorrência do morfema Ø em nossa língua. De acordo com a autora, o singular dos
nomes não se concretiza em um ponto do vocábulo, mas está presente como
categoria de número, o que se comprova com o plural: livro-s / livro-Ø. O ponto
que, no plural, é ocupado pelo morfema –s, no singular é um conjunto vazio, que
representamos pelo símbolo Ø e denominamos de morfema zero. Ambos, porém, são
realidades morfêmicas: aliás, como noção gramatical, cada um deles só existe
graças à existência do outro. Sem essa oposição sequer seriam cogitados esses
conceitos. Assim, a categoria gramatical de número só existe porque um par
opositivo a instaura: singular e plural.
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